"Direção pelega com a base não tem arrego!
Ontem foi, de longe, um dos dias mais tristes pra mim. Depois de mais de dois meses de luta intensa e com os nervos à flor da pele, acaba a greve da rede estadual de ensino. E perdemos a luta. Perdemos feio...
A minha tristeza não é pela derrota em si. Sou da base da pirâmide social. Sou do povo, sou um dos "zé ninguém". E, como se não bastasse, eu me oponho a essa realidade hipócrita e desigual que me cerca. Para quem está nessa posição, tomar na cabeça não é novidade. É preciso saber viver as derrotas.
Mas a minha tristeza e indignação está na forma como a derrota se deu. Quando cheguei na assembleia hoje, percebi que muitos dos que estavam ali nunca tinham ido às assembleias, sequer participaram do movimento grevista. Rostos que, ao que parece, costumam aparecer em momentos estratégicos, para neutralizar uma luta que não foi lutada por eles, mas por outros colegas de profissão que, corajosamente, enfrentaram Deus e o resto do mundo para defender uma educação de qualidade e popular.
Muitos colegas grevistas estavam cansados, e queriam jogar a toalha, sobretudo depois da facada nas costas que a direção do sindicato deu na própria categoria que ela deveria defender. Esses colegas eu respeito, pois joga a toalha quem briga e chega no seu limite. Mas se mobilizar para votar contra um movimento do qual não se fez parte, isso é, para mim, o cúmulo da imoralidade, da falta de caráter.
É muito complicado se opor à ordem social na qual se vive. E aqui no Brasil vivemos numa realidade particularmente cruel. Uma democracia que permite que partidos recebam "doações" (na verdade, investimento) de grandes empresas; com currais eleitorais dominados por milicianos; com a grande mídia totalmente comprada; e com um governo que funciona seguindo uma lógica própria, a lógica dos "Amigos dos Amigos", à revelia dos anseios da população.
Ainda assim, mesmo dando murros em ponta de faca, eu prefiro me opor a essa realidade social mesquinha e violenta na qual vivemos do que me calar diante dela. Calar-se diante das injustiças é ser tão imoral quanto a própria injustiça. Eu me recuso a fazer isso.
A greve da educação, pelo momento no qual ela foi deflagrada, tinha tudo para obter ganhos históricos de fato. Mas perdemos porque lutamos contra um governo truculento e descompromissado com a população; perdemos porque lutamos ao lado de um sindicato que serve mais a seus interesses partidários do que a qualquer outra coisa; e perdemos porque muitos dos colegas docentes que reclamam de tudo e de todos na sala dos professores simplesmente se fizeram de mortos diante da greve, isolando quem teve coragem para dar a cara a tapa.
To profundamente triste e me sentindo derrotado como poucas vezes me senti na vida. Penso nos meus alunos e na minha escola sem a mínima infraestrutura para atendê-los, uma das milhares de escolas-de-faz-de-conta da rede estadual de ensino. Achei que sairia dessa greve com alguma garantia de melhoria para eles. Mas saio dela da mesma forma que entrei: um professor solitário, que se sente matando um leão por aula para tentar estimular seus alunos a viverem uma instituição que não os representa e não os acrescenta em nada.
Mas faço e sempre farei das minhas aulas uma tentativa de apresentar aos alunos uma interpretação crítica e contestadora do mundo e uma ideia de como agir nesse mundo, no sentido de mudá-lo. Mesmo com um mísero tempo de aula por semana, isso o Estado e a direção Sepe não conseguirão tirar de mim...
Até a próxima, meus caros..
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SEPE vendidos, não me representa
A trilha sonora abaixo faz parte do 'VANDALIRISMO'
Fonte: http://pagebin.com/5NlBEoyc
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